Facebook
  RSS
  Whatsapp
Home    |    Notícias    |    Política

Crônica da Política Nacional

Na má política tem de tudo: conversa pra boi dormir, paixões cegas, ligações perigosas... Vale até dinheiro enfiado no rabo...

Compartilhar

 

Era uma vez uma cidadezinha chamada Campomaiópolis, localizada na Piauilândia, nos Estados Unidos do Brasil.

O município era muito disputado pelas elites políticas da região que desejavam emprego fácil para familiares, cunhãs, fantasmas e correligionários. Duas grandes famílias com histórico político na cidade lançaram-se mais uma vez às eleições locais. E cada uma delas escolheu o filho caçula para concorrer ao cargo de prefeito.

Os dois inexperientes candidatos começaram a juntar dinheiro, muito dinheiro para depois juntar gente, muita gente. Tudo pronto para a campanha começar e os nomes dos candidatos já estavam espalhados por todos os buracos da cidade. Um mundo de pós-verdade invadiu corações, mentes e redes sociais daquele município.

Uma parcela da população não ficou atrás de tanta politiquice e começaram os pedidos de "Quero uns sacos de cimento", "Me pague umas contas atrasadas", "Preciso de um dinheirinho", "Me consiga uns exames médicos", "Ajeite um emprego pra mim quando ganhar a eleição". Dia e noite, os plebeus pediam tudo aos dois candidatos; a situação era pior com os patrícios locais, pois eles não pediam, exigiam: "Quando chegar à prefeitura, não esqueça das minhas licitações", "Eu te ofereço a melhor propina da região", "Só aceito cargo de funcionário-fantasma pro meu neto", "Eu financiei sua campanha, lembre-se disso", "Tenho amigos influentes em todas as esferas do poder".

O homem é um animal político”

Logo a obsessão partidária reinava em Campomaiópolis. Famílias rivalizavam entre a disputa bipolar da cidade; moradores intrigavam-se ao ver o vizinho sair de carro adesivado para a carreata do candidato rival; amigos brigavam pelas redes sociais quando um dava curtidas na postagem do candidato concorrente. Aí começaram as carreatas medonhas e foguetões no pé do ouvido em plena pandemia da Covid 19. E danam-se máscaras, álcool nas mãos, isolamento social, vacina cloroquinada (nada!): o negócio é ganhar essa bagaceira. Enquanto isso, o então prefeito da cidade, já em fim de mandato, passava o resto do dia em sua fazenda de gado, coçando o saco até criar feridas.

Enquanto isso, a equipe de cada candidato trabalhava ferozmente. Marqueteiros ilusionistas transformaram os desconhecidos candidatos em deuses da esperança para a população carente. Jornalistas de ficção utilizaram rádios e portais de notícias para veicular mentiras sinceras sobre seus candidatos. Um laranja profissional trabalhava diariamente nos bastidores da polititica local. Advogados do diabo viviam a correr aos tribunais explicando fatos inexplicáveis. Corruptos experientes ensinavam aos jovens candidatos que na política os fins justificam os meios e pronto. Empresários canalhas financiavam ambos os candidatos, não interessando quem ganhe a eleição, desde que o vencedor abra os cofres públicos para essas empresas. Um magote de babões revezava-se na puxação de saco oficial de seus padrinhos políticos nas redes sociais. Uma cartomante de araque prometia vitória ao candidato que lhe desse uma boa paga. Havia também duas putinhas virgens para cada candidato relaxar da campanha, já que ninguém é de ferro, e meia dúzia de intelectuais vigaristas já escreviam obras, pintavam telas, compunham música para o candidato mecenas de sua preferência.

Quando menos se esperava, surgiu um terceiro candidato: bom samaritano, probo, inteligente. Nem parecia candidato à política nacional. E começou a crescer nas pesquisas de intenção de votos. Mas os dois candidatos oligárquicos decidiram unir forças para derrotar o samaritano xereta (concordaram em dividir a prefeitura entre si após a vitória de um deles na eleição). Assim, depois de unir seu eleitorado e sufocar a campanha do terceiro candidato, um dos clãs políticos ganhou o pleito.

Na política do vale tudo

Porém em menos de uma hora, a união (in)conveniente foi desfeita e as duas famílias oligárquicas voltaram a brigar por todas as vagas na prefeitura para alocar seus correligionários. Aí foi aquela esculhambação. Briga de rua, grito da mulherada, porrada nas fuças, soco no estômago, unhada felina, pontapé no popozão, puxavante de cabelos, coice nos peitos, tapa no pé das oiças, chute naquele lugar... Perto dali quatro marginais sociais assistiam à confusão daqueles políticos e eleitores locais.

- Meu Deus, será que ninguém mais tem ética profissional nessa cidade? Desabafa um mendigo.

- Calma aí, eu tenho ética de trabalho: não beijo na boca, afirma uma prostituta.

- E eu não vendo fiado nem me vicio, gaba-se um traficante local.

- Pois é, bem que a política brasileira poderia ter um pouco mais de ética no trabalho, finaliza o bom samaritano.

(Esta é uma obra de ficção realista. A total semelhança com a realidade não é mera coincidência)

Mais de Política